18/02/2011


Carnaval,

Seria audacioso tentar descrever o espírito fornicador que toma conta das pessoas no carnaval. É mais difícil ainda, descrever o clima de volúpia que toma conta das pessoas, que em meio ao calor natural ainda se entregam ao ardor de seus pensamentos e desejos secretos.

Em meio a todo esse furor, estão os corpos, sempre voltados a modelagem escultural, referenciando a beleza grega dos deuses e objeto da cobiça de homens e mulheres. Estes corpos se tornam notórias vitrines de carne e curvas insinuantes.

Estas características construídas pela cultura pagã deram ao carnaval a essência pecaminosa e perturbadora da ordem, tendo em vista a religião dominante e o conceito de normatividade que nos cerca na ordem social.

O tabu da sexualidade e do medo social sobre a abordagem das performances sexuais parece encontrar no carnaval, uma justificativa para entrar no gosto das pessoas. As fobias parecem ter seus efeitos diminuídos e as pessoas parecem afirmar com mais naturalidade aquilo que normalmente reprimem.

Os blocos onde os personagens mudam de sexo, as pessoas com menos roupas, os excessos alcoolicos e o relaxamento com a conduta sexual são temas recorrentes no período que compreende a Folia de Momo.  

Nesse momento é cabível perguntar: O pecado é fruto do carnaval ou o carnaval é fruto do pecado?

O pensamento maniqueísta divide a opinião pública. O que une a todos é o sentimento de preservação do corpo.Seja pela pretensão de uma vida gozosa no mundo celestial (pensamento religioso), pelo sentimento de despertar nas pessoas o desejo (o culto ao narcisismo) ou ainda pela valorização de si mesmo (auto-estima). O corpo está no centro dos debates.

A festa da carne precisa seguir uma ordem, natural inclusive, a lei do mais forte sobre o mais fraco. Assim corpos, violência, sexo, alegria parecem servir como marco regulatório e mantenedor de uma ordem cíclica.

O fato é que o Carnaval serve como representação da desordem, da comédia, que representa a desordem (Aristóteles). O corpo e suas manifestações naturais são utilizados como elementos materializadores do pecado.

Em sua genesi, o carnaval chamou-se “Entrudo” e apoiado pelos clérigos marcava a data que antecedia a quaresma. De bom tom, as pessoas receberam a permissão de extravazar sua alegria, estas entravam nas casas e convidavam as pessoas a brincar, em seguida se resguardavam para a vida religiosa.

Os corpos, afetados pelo carnaval e sua essência pecaminosa, necessitam de purificação que só a santificação é capaz de proporcionar. É preciso causar a desordem para se propor o retorno a normalidade.

Assim homens e mulheres agem ciclicamente, seguindo uma ordem proposta por uma hegemonia que formula pensamentos e valores. Desde o princípio, a cultura e seus processos de aculturação ajudam-nos a construir o cenário histórico que demarca nossa geração.




Nenhum comentário:

Postar um comentário